Selecção ideal de Portugal
Artigo de opinião em que analisamos uma possível selecção ideal de Portugal nas últimas décadas.
Nesta fase difícil por que todos estamos a passar, alguns amantes deste desporto tão apaixonante aceitaram o desafio de escolher o 11 ideal das selecções que, nas últimas décadas, têm dominado o panorama futebolístico nas grandes competições internacionais.
Em relação à selecção de Portugal, tive em conta apenas as campanhas do Euro 96 a esta parte, pois foram aquelas a que assisti “ao vivo” – nas anteriores ainda não era sequer nascido.
Assim, aqui ficam os meus 11 escolhidos:
Rui Patrício.
No Euro 2008, com 20 anos, não chegou a ser utilizado, acabando por ser depois “esquecido” por Carlos Queiroz para o Mundial 2010. A partir daí, porém, agarrou a baliza da selecção nacional e não mais a largou, sendo titular indiscutível desde o Euro 2012 e com prestações absolutamente decisivas na conquista do Euro 2016 e no terceiro lugar na Taça das Confederações em 2017. É, sem grandes dúvidas, um dos 10 melhores guarda-redes da Europa pelo menos nos últimos cinco anos.
Miguel.
Adaptado a lateral a meio de 2002/03, tornou-se rapidamente uma referência na posição no país. Ainda começou o Euro 2004 como suplente de Paulo Ferreira, mas viria a ganhar o lugar logo ao segundo jogo, arrancando aí para um resto de competição em que foi absolutamente intratável – tal como no Mundial 2006, onde foi o titular de forma incontestada. Passou já sem brilho pelo Euro 2008 e pelo Mundial 2010, dividindo o lugar com Bosingwa, Paulo Ferreira e o adaptado Ricardo Costa, mas a forma assombrosa que demonstrou nas duas fases finais anteriores valeram-lhe esta distinção.
Fernando Couto.
Um dos nomes grandes da História da posição de defesa-central do futebol português (e o primeiro de sempre a atingir as 100 internacionalizações). Pode dizer-se que foi o farol que iluminou a defesa lusa durante mais de uma década. À grande campanha no Euro 96 (onde marcou o golo que ditou a vitória sobre a Turquia por 1-0 que garantiu o apuramento para os quartos-de-final) juntou outra quatro anos depois, formando uma dupla quase intransponível com Jorge Costa na caminhada até às meias-finais. Na inenarrável campanha de 2002 esteve uns furos abaixo, a exemplo do resto da equipa. E o Euro 2004, onde chegou já em fase descendente, ainda começou como titular, cedendo depois o posto a Ricardo Carvalho.
Ricardo Carvalho.
Será, sem grandes dúvidas, unanimemente reconhecido como um dos melhores centrais do futebol mundial neste século/milénio, e muito desse estatuto deve-se também ao que fez ao serviço da selecção nacional. Depois de ganhar o lugar já com o Euro 2004 em andamento, foi titular indiscutível em todas as grandes competições que se seguiram até 2012, falhando esse Europeu e o Mundial do Brasil devido a divergências com o então seleccionador Paulo Bento. Voltaria às escolhas com Fernando Santos e foi assim que se viria a sagrar campeão europeu em 2016, já com 38 anos, sendo titular nos três primeiros jogos da campanha vitoriosa.
Fábio Coentrão
No seu auge, Coentrão atingiu os patamares mais altos a nível mundial no que à função de lateral-esquerdo diz respeito. Nesse período, curto mas (muito) intenso – entre 2009 e 2014 -, foi um dos grandes destaques da selecção portuguesa nas campanhas no Mundial 2010 e no Euro 2012. Por lesão, fez apenas um jogo no Mundial 2014 e começou aí o seu declínio (acabaria por falhar o Euro 2016 e o Mundial 2018 também devido a problemas físicos), mas o que fez nas campanhas anteriormente referidas coloca-o aqui.
Luís Figo
Na fase pré-Ronaldo, quando Eusébio era o Rei incontestado do futebol português, Figo foi o príncipe e o mais ilustre nome da fornada da chamada Geração de Ouro. Pela selecção A manteve o brilho intenso, com grandes desempenhos nos Europeus de 96, 2000 e 2004 e no Mundial de 2006, ficando apenas a faltar-lhe um título para abrilhantar ainda mais esse percurso – que o levou, por exemplo, a vencer a Bola de Ouro em 2000 e a ser eleito Melhor Jogador do Mundo para a FIFA no ano seguinte.
Maniche.
Havia opções de maior talento e peso na selecção nacional em determinados momentos (caso de Paulo Sousa, por exemplo). Mas a verdade é que é impossível recordar as grandes campanhas de Portugal no Euro 2004 e no Mundial 2006 sem pensar no contributo absolutamente decisivo de Maniche, titular indiscutível em ambas e com golos essenciais e de uma beleza técnica incrível (quem esquece o míssil à Holanda nas meias-finais desse Europeu caseiro?). Por essa razão, e porque pela natureza das suas características desempenhava com igual eficiência funções mais defensivas ou mais atacantes, tem lugar reservado nesta eleição.
Rui Costa.
Um verdadeiro amante de futebol tem obrigatoriamente de gostar de Rui Costa, o Maestro que começou e acabou no Benfica mas que deslumbrou à mais alta escala na Serie A e na selecção nacional. Depois de dar o título mundial de sub-20 a Portugal, apontando o penalty decisivo na final de Lisboa diante do Brasil, viria a ser figura de proa nos Europeus de 96, 2000 e 2004 – aqui já com estatuto de arma secreta, fruto da veterania e da ascensão de Deco à titularidade, mas ainda decisivo, como se provou com “aquele” golaço a Inglaterra no épico jogo dos quartos-de-final.
Ricardo Quaresma.
Será hoje um dos últimos intérpretes do chamado futebol de rua a sobreviver a alto nível. Não tem um temperamento fáci. E por essa razão foi votado ao esquecimento em várias campanhas (de Scolari a Paulo Bento, passando por Carlos Queiroz), mas brilhou em todas as que teve oportunidade de participar: mostrou-se a bom nível no Euro 2008 e foi peça fulcral na conquista do Euro 2016, registando ainda prestações muito positivas na Taça das Confederações em 2017 e no Mundial 2018 (onde se destaca o genial golo de trivela ao Irão).
João Vieira Pinto.
Havia várias opções para esta posição, desde a escolha de um ponta-de-lança mais clássico à de segundo avançado. E nessa função, nunca vi um melhor jogador que João Vieira Pinto. Um dos mais geniais futebolistas portugueses de sempre. Bicampeão mundial de sub-20, continuou a passear o seu talento na piscina dos graúdos, com grandes desempenhos nos Europeus de 96 e 2000. Infelizmente, a sua última aparição num grande palco com a camisola da selecção seria no famigerado jogo frente à Coreia do Sul, no Mundial 2002. Foi expulso ainda na primeira parte por agredir o árbitro – uma mancha que ainda assim não chega para apagar a genialidade de cada acção sua dentro do terreno de jogo com a bola a rolar.
Cristiano Ronaldo.
A escolha mais simples de todas, tamanha é a dimensão do protagonista. Cristiano Ronaldo teve uma ascensão meteórica no futebol a todos os níveis. Sendo convocado para o Euro 2004 ainda com 19 anos; começou no banco, mas a partir do primeiro jogo dessa campanha não mais voltou a passar por tal sensação, assumindo-se desde então como a figura maior do futebol português (e quiçá mundial). Fez campanhas extraordinárias nos Europeus de 2004, 2012 e 2016 e nos Mundiais de 2006 e 2018 (principalmente nos dois primeiros jogos) e parece não dar sinais de abrandamento rumo ao Euro 2020 – agora a ser jogado em 2021, numa altura em que o CR7 já contará 36 primaveras. Pelo demonstrado até agora, isso será apenas uma mera nota de rodapé para o astro madeirense.
Fernando Santos.
Esta opção quase que se justifica por si mesma. O Engenheiro pegou numa equipa completamente esfarrapada após a decepção do Mundial do Brasil (e com uma derrota caseira diante da modesta Albânia no início da caminhada para o Euro 2016) e, com toda a serenidade e confiança, recolocou-a no trilho certo, levando Portugal ao primeiro título sénior da sua História contra todas as previsões. E não se ficou pela conquista do Euro 2016: conseguiu ainda um honroso terceiro lugar na primeira participação lusa de sempre na Taça das Confederações e, depois de um razoável Mundial 2018 (oitavos-de-final), fez ainda de Portugal o primeiro vencedor de sempre da Liga das Nações. Dificilmente se poderia pedir melhor.